1919 - Kropotkine, a morte de um apóstolo

1919 - Kropotkine, a morte de um apóstolo
Kropotkine, a morte de um apóstolo

Exilado voluntariamente na Inglaterra, mal cuidava o grande pregador da "Anarchis", impenitente proliferador da autocracia dos czars, em ser vitima do imenso fogaréu que alimentava mesmo de longe, com seu estranho idealismo.

Bebendo a passos largos a concepção social de Bakonnine; entrando em luta com o czarismo, peregrinando pela Suiça, guerreando pelas paragens asiaticas da Russia; preso e condenado a acabar seus dias no degredo enregelado da Sibéria; e diante do olhar ingênuo dos guardas, resolvendo um problema matemátcio, nunca o principe Kropotkine esteve tão mal seguro como agora que se julgava no melhor dos mundos, ao ruir fragorosamente a monarquia anacrônica dos czares.

A vida humana tem dessas ironias!

Foragido da Suiça, foragido da França, Kropotkine aguardou anos e anos, abrigado sob as leis inglesas, o advento da nova fase social cuja apologia vinha fazendo, quase durante meio século, em todas as suas obras.

Depois de uma mocidade agitada por idéias e acções, o principe anarchista envelheceu longe da patria, envelheceu na espectativa de poder algum dia contemplar a germinação da semente que atirava profusamente à terra emem nascera, e por onde errava também a fascinação das palavras de Tourgueneff, Tolstoi e Gorki.

Afinal, quase à beira do tumulo, aos 75 anos de idde, Kropotkine ouviu, da Inglaterra, o estrondo da queda dos czares e soube da criação da sociedade com que sonhava.

Mas, em meio do caos, devido talvez á influência vigorosa de suas doutrinas, a voz de Kropotkine que chegava do exílio perturbava a sanha dos maximalistas de Lenine e Trotsky. E o governo assassino da Rússia, o governo livre, o governo que trucidou milhares e milhares de pessoas, não podia deixar que vibrasse, autorizada e potente, aquela voz que havia sido a precursora de toda a ruinaria.

O punhal assassino dos bolchevikis cortou na garganta de Kropotkine o fio dessa voz de eterno revoltado.